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Mel produzido pelas abelhas pode servir como um “marcador” da poluição 1n441c

8 minutos de leitura
Imagem: Iasmim Amiden /Acervo Ecoa

Via Jornal da USP v5j33

Por Isabella Lopes

O mel é uma substância produzida pelas abelhas a partir do néctar obtido de flores. Além do seu consumo apresentar benefícios medicinais, como o auxílio ao sistema imunológico e a melhora dos níveis de colesterol, o produto doce pode ser um indicador de poluição no ambiente. 

De tonalidades variadas — que podem ar pelo branco, amarelo e âmbar, por exemplo — o mel é fundamental para a sobrevivência das abelhas. Denise Alves, professora do Departamento de Entomologia e Acarologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Esalq) da USP, explica que a importância do alimento se dá por sua composição: açúcares (como a glicose e a frutose), água, sais minerais e vitaminas. 

A professora expõe que a substância adocicada é a principal fonte energética de suas produtoras e fornece as calorias necessárias para as atividades e processos básicos das abelhas. “É essencial para tudo, para o metabolismo, para gerar calor, para o próprio voo delas”, afirma.

Influência da poluição 48l6i

O mel tem capacidade de mostrar a origem geográfica e as características do lugar onde foi coletado. Denise destaca que essa propriedade é uma consequência da obtenção da matéria-prima feita a partir de organismos vegetais. “Como a planta consome água, tem todos os nutrientes do solo, isso vai se repetir também ali na qualidade daquele néctar.”

Mulher branca, ainda jovem, cabelos escuros e compridos e sorrindo para a câmera. Usa óculos
Denise Alves – Foto: Reprodução/Currículo Lattes

Durante a coleta, as abelhas são expostas a diferentes ambientes e situações. As operárias, também chamadas de forrageiras, têm a tarefa de buscar os recursos alimentares da colmeia e “fazer uma varredura” em suas rotas. Durante essa atividade, as polinizadoras ficam expostas a fatores bióticos, abióticos e contaminadores no ar, no solo e nas plantas e podem carregar partículas ultrafinas de materiais vindos da poluição. Denise destaca a presença de metais pesados e cinzas nos corpos e moradias desses seres. “[Eles] vêm das atividades humanas, seja uma estrada, seja de ambientes em relação à agricultura, mas também às cidades. […] Quando elas manipulam o mel, tudo isso pode ser incorporado”, explica. 

Para a especialista, a sensibilidade do mel como indicador também demonstra os impactos da perda de biodiversidade animal e, principalmente, vegetal. “Quanto menos cobertura florestal, mais degradado está em relação à qualidade do ambiente e há uma maior quantidade de compostos nas abelhas.” Nesse sentido, a presença de vegetação protege para que as partículas cheguem às colmeias e, consequentemente, para os demais organismos que compõem a teia alimentar — o conjunto de relações de alimentação de um ecossistema. 

A professora ressalta que a análise do mel, principalmente do comercializado, é importante para traçar e medir a quantidade de metais pesados e outros parâmetros obrigatórios, como teor de água e fermentação. Esse processo é realizado em laboratório, por meio da verificação de pH, hidroximetilfurfural (HMF, resultado da degradação de açúcares), envelhecimento, umidade e sais minerais, por exemplo. 

Mel, abelhas e humanos 1s3s51

Segundo Denise Alves, o bem-estar das abelhas, a qualidade do mel e a biodiversidade dependem de ações humanas positivas. “Esses insetos precisam de um ambiente saudável e mais conservado, especialmente as plantas”, destaca. Além do mel, essas polinizadoras se alimentam de pólen, grãos nos quais estão os elementos reprodutores masculinos. 

Para a conservação das comunidades de abelhas, ela ressalta a criação de ambientes vegetais variados que permitam a nutrição durante o ano todo, principalmente para as espécies que forrageiam nesse período. As monoculturas dificultam a busca por alimento: “Elas têm um boom de floração, em um curto período de tempo. O que as abelhas vão absorver depois desses momentos?”, questiona. A oferta de água limpa também é importante para a sobrevivência desses seres e para a produção do mel, de acordo com a especialista.

Entretanto, as atividades humanas exercem pressão sobre esse funcionamento. A professora cita a introdução de espécies exóticas, o uso de agrotóxicos e o desmatamento como estressores ambientais. As mudanças climáticas impactam o funcionamento dos insetos, que não conseguem regular a temperatura corporal como os humanos.  

Denise chama atenção para a atuação das abelhas no cotidiano: “Elas são aliadas da conservação, do meio ambiente e da agricultura. Estão no prato de comida […] e nos nossos medicamentos”. Além disso, ela entende que a criação de abelhas é “uma atividade terapêutica. Uma missão de todos nós é diminuir a nossa pegada ecológica”. 

*Sob supervisão de Paulo Capuzzo

A Ecoa solicitou a análise de méis do Pantanal para verificar a presença de agrotóxicos — e a boa notícia é que estavam livres dessas substâncias. O mel mais puro do mundo, que posegundo estudo da Universidade de Neuchâtel (Suíça), é produzido na Serra do Amolar, na fronteira entre Brasil e Bolívia, por famílias ribeirinhas apoiadas pela Ecoa por meio do Programa Oásis.

Em várias regiões do Brasil, análises detectaram contaminação por neonicotinóides — agrotóxicos associados ao colapso de colmeias. No entanto, os méis das áreas isoladas do Pantanal testados apresentaram resultado: zero veneno.

Mas e com a poluição causada pelos incêndios? Os impactos ainda precisam ser investigados.

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