////

Hidrovia Paraná-Paraguai: Mais de 40 pesquisadores assinam artigo que revela desastre que megaobra pode causar para o Pantanal 4q3f5o

9 minutos de leitura
Hidrovia Paraná-Paraguai
Reserva Ecológica Taiamã é um dos locais ameaçados pela hidrovia - (Foto: Daniel Kantek).
  • Artigo elaborado por mais de 40 pesquisadores de diversas áreas elenca os diversos impactos que a Hidrovia Paraná-Paraguai pode causar para o Pantanal
  • A Hidrovia pretende ligar Cáceres, no Mato Grosso, até Nueva Palmira, no Uruguai, totalizando cerca de 3.400km.
  • Obras pesadas como explodir rochas, acabar com as curvas dos rios e aprofundar o leito do rio Paraguai seriam necessárias para permitir a navegação dos comboios de barcaças 24 horas por dia. 
  • O megaprojeto de 1987 foi rechaçado na década de 90, mas ele ressurge a cada tempo com novas feições, quase como uma fênix. A partir dos anos 2000 tentaram faze-lo por partes, sem apresentar o todo.
  • O projeto ameaça o Pantanal devido aos impactos das obras e circulação de embarcações, o que altera a dinâmica natural da água, ameaça animais pantaneiros e os povos que ali vivem.

  4u42c

O projeto da Hidrovia Paraná-Paraguai e seus impactos para o Pantanal motivaram a elaboração de artigo feito por mais de 40 pesquisadores que atuam na região em áreas como geografia, antropologia, dinâmicas de pesca, ecologia de população e hidrologia. 

A Hidrovia Paraguai-Paraná (HPP) é um projeto para interligar Cáceres, no Mato Grosso, até Nueva Palmira, no Uruguai, totalizando cerca de 3.400km. Para sua construção, são exigidas obras de grande impacto como dragagem e retilinização de curvas dos rios, que podem gerar impactos irreversíveis para a dinâmica ambiental, social e econômica pantaneira. Entre os pontos onde são exigidas tais obras, estão regiões mais preservadas do Pantanal, como o  Parque Nacional do Pantanal Matogrossense e a Estação Ecológica de Taiamã.

O material chama atenção para os possíveis impactos no Pantanal a partir da megaobra. Entre eles, estão alterações no pulso de inundação do Pantanal (períodos de cheia e seca), graves danos ecológicos e culturais, impactos sociais e econômicos. Os pesquisadores ressaltam também que há meios alternativos que geram menos impactos, como o sistema ferroviário.

Foto: Observatorio Pantanal

Leia também: Artigo histórico ilustra impactos da megaobra que ainda ameaça o Pantanal 5n5i3d

A publicação foi liderada por Karl Matthias Wantzen, professor de Ecologia dos Rios e diretor da Unesco Rios e Patrimônios – Cultura Fluvial. Aguinaldo Silva, Ieda Bortolotto, Geraldo Damasceno e Rafael Chiaravalotti, membros do conselho da Ecoa e pesquisadores de renome em suas áreas de estudo, são alguns dos estudiosos que compõem a publicação.  

André Nunes, Doutor em Ecologia e Conservação e diretor científico da Ecoa, também é um dos autores do artigo. Segundo o pesquisador, o trabalho teve como objetivo abordar os possíveis impactos da Hidrovia a partir de uma visão integrada de várias áreas de conhecimento.  

“Nosso intuito é chamar atenção para os diversos impactos da Hidrovia Paraná-Paraguai, que há mais de 25 anos continua ressurgindo. O grupo de peso que escreveu o artigo é formado por pesquisadores de renome nacional e internacional, que trabalham em diferentes temas no Pantanal. Por isso, se juntaram para escrever sobre um assunto em comum que afeta todas essas áreas e o Pantanal como um todo”.

e o artigo sobre a Hidrovia Paraná-Paraguai aqui.   4f1469

Hidrovia Paraná-Paraguai
As curvas dos rios precisariam ser retilinizadas para permitir a agem contínua de embarcações

A ameaça da Hidrovia Paraná-Paraguai 6c6q55

O principal objetivo da megaobra é transportar soja e outras commodities agrícolas produzidas no Brasil, Paraguai e Bolívia em direção ao sul, para portos marítimos na Argentina e Uruguai, com intuito de exportação para a América do Norte, Europa e Ásia.  

O intuito é criar condições para a navegação 24 horas por dia de navios com calado de até três metros, o que exige obras pesadas. Seria necessário explodir rochas, acabar com as curvas dos rios e aprofundar o leito do rio Paraguai. 

Leia também: Um projeto hidroviário põe o Pantanal em perigo 1gd11

A primeira versão do projeto da Hidrovia Paraná-Paraguai foi planejada na década de 1980, mas depois de evidências fornecidas por cientistas, bem como cobranças da sociedade diante dos impactos irreversíveis e sistêmicos no Pantanal, a parte brasileira do projeto foi oficialmente rejeitada em 2000. 

Entretanto, nos últimos anos a obra ou a ser executada em etapas, com a emissão de licenças para construção de portos a montante do Pantanal próximo a Cáceres (MT) e a jusante do Pantanal em Porto Esperança (MS), o que consequentemente força a criação da Hidrovia entre os dois pontos.  

Hidrovia Paraná-Paraguai
Incontáveis tuiuiús na Estação Ecológica Taiamã, reserva federal que pode ser prejudicada pela hidrovia Paraguai-Paraná. Foto: Daniel Kantek / ICMBio.

Pesquisadores chamam esse processo de fragmentação da Hidrovia Paraná-Paraguai de “tirania das pequenas decisões”. Apesar de seguirem trâmites legais, essas ações locais não consideram os impactos em cascata e cumulativos que podem causar para o Pantanal. 

O principal argumento a favor da Hidrovia é que o transporte de commodities agrícolas por navegação reduziria custos e tempo em relação ao atual transporte rodoviário. Essa afirmação, no entanto, não considera os custos para o Pantanal em termos dos impactos ambientais e sociais negativos que já se tornaram evidentes. Há ainda a viabilidade de opções de menor impacto, como o sistema ferroviário. 

Outro ponto importante é que, durante os períodos mais secos, o transporte por barcaça geralmente se torna impossível – e os níveis dos rios caíram com frequência nos últimos anos. Tal cenário se torna ainda mais instável diante das mudanças climáticas. 

Durante as secas de 2019 a 2022, o transporte por barcaças de soja e minérios no rio Paraguai a jusante de Corumbá foi interrompido por baixos níveis de água, embora esse trecho seja naturalmente mais amplo e já tenha sido aprofundado por muitos anos de dragagem. 

Alíria Aristides 5m5l24

Deixe uma resposta Cancelar resposta b6b6b

Your email address will not be published.

Mais recente de Blog 56461

Rios do Pantanal: Bacia hidrográfica do Rio Sepotuba 264g24

Texto originalmente publicado em 5 de outubro de 2020 Localização: A bacia hidrográfica do Rio Sepotuba abrange

A Hidrovia Paraná-Paraguai: atualizações 1k6t3a

Empresa da Argentina entrou em campo repentinamente, contratada por organização do “corredor Centro-Norte”. Artigos ‘estranhos’ sobre

A Justiça Federal de Corumbá determinou o bloqueio de mais de R$ 212 milhões de fazendeiros acusados de causar danos ambientais ao Pantanal 611x72

A Justiça Federal de Corumbá determinou o bloqueio de mais de R$ 212.479.188,44 em bens de

Rios do Pantanal: Bacia Hidrográfica do rio Cabaçal z4q5t

Texto originalmente publicado em 2 de outubro de 2020 Localização: A bacia hidrográfica do rio Cabaçal está

Mel produzido pelas abelhas pode servir como um “marcador” da poluição 51f3e

Via Jornal da USP Por Isabella Lopes O mel é uma substância produzida pelas abelhas a