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Desmatamento e infraestrutura ameaçam a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai (BAP) 6g266j

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A Bacia do Alto Paraguai (BAP), onde está localizado o Pantanal, a maior planície inundável contínua do mundo, vem ando por profundas transformações nas últimas quatro décadas devido a perda de vegetação nativa. Uma análise multitemporal realizada por Fernanda Cano, pesquisadora da Ecoa, mostra mudanças significativas na cobertura do solo entre 1985, 2004 e 2024, com foco em seis de suas sub-bacias: Miranda, São Lourenço, Taquari, Cabaçal, Sepotuba e Itiquira. 5t6i28

O avanço da agricultura industrial – em especial a voltada para a produção de grãos na parte do planalto e da pecuária com pastagens exóticas – tem promovido a conversão acelerada de formações florestais, savânicas e campestres, o que coloca em risco a manutenção da região pantaneira.

Além da agropecuária, projetos de infraestrutura agravam os impactos. Mais de 150 represas já foram construídas, estão em construção ou planejadas, enquanto a Hidrovia Paraguai-Paraná ameaça as áreas mais preservadas do Pantanal, como a Estação Ecológica de Taiamã e o Parque Nacional do Pantanal.

SAIBA MAIS: Estação Ecológica de Taiamã, um refúgio no Pantanal 3c1w2k

Perdas ambientais na planície e no planalto

A análise, baseada em dados do MapBiomas, aponta que:

  • Na planície, entre 1985 e 2022, houve uma perda de 10% das áreas naturais. Atualmente, 85% da planície ainda mantém cobertura natural, enquanto 15% são áreas de uso antrópico. Nesse período, 1,5 milhão de hectares de vegetação nativa foram convertidos em pastagens.
  • No planalto, a situação é mais crítica: 41% das áreas naturais foram perdidas no mesmo intervalo. Hoje, apenas 38% do planalto permanece com cobertura natural, contra 62% de áreas alteradas pelo homem. Cerca de 5,4 milhões de hectares de vegetação nativa deram lugar a pastagens e monoculturas, como soja e outras lavouras temporárias.

Impactos hidrológicos e climáticos

As mudanças na cobertura e no uso do solo no planalto da Bacia do Alto Paraguai têm reflexos diretos na hidrologia do Pantanal, como explica Alcides Faria, da Ecoa:

“As águas que abastecem o Pantanal, a planície, nascem no planalto. Essa configuração bastante distinta é determinante para a dinâmica física e biológica do Pantanal. Então, tudo o que ocorre na parte alta tem efeitos diretos dobre a região pantaneira” – Alcides Faria, biólogo e diretor executivo da Ecoa

Fernanda Cano destaca que o regime de chuvas está cada vez mais irregular, intensificando eventos extremos, como secas prolongadas e a redução do nível do rio Paraguai, condições que elevam o risco e a intensidade de incêndios.

Um panorama recente publicado pelo MapBiomas em junho de 2024 afirma que o Pantanal foi o bioma que mais secou no Brasil entre 1985 e 2023.

Fonte: Panorama da Superfície de Água do Brasil (1985 – 2023) – MapBiomas

Outras pressões antrópicas

Além da agropecuária e da infraestrutura, outras atividades humanas contribuem para a degradação da região. Entre elas, destacam-se o descarte irregular de agrotóxicos nas matas ciliares, o uso do leito dos rios como bebedouro para o gado, processos erosivos e descargas de águas pluviais. Essas práticas fragilizam os ecossistemas, reduzindo as áreas de inundação, fragmentando habitats, empobrecendo o solo e provocando assoreamento dos rios, o que compromete a disponibilidade hídrica e a biodiversidade do Pantanal.

A importância do monitoramento

Os dados obtidos reforçam a necessidade de monitoramento contínuo para entender as mudanças ambientais e planejar estratégias de recuperação e conservação na BAP. A complexidade e a interligação dos ecossistemas da Bacia do Alto Paraguai demandam soluções integradas, como o fortalecimento dos Comitês de Bacia Hidrográfica e a implementação de políticas de restauração ecológica, entre outras.

Em 2024 a Ecoa divulgou o mapa de áreas prioritárias na Bacia do Alto Paraguai, que identifica as áreas críticas e vulneráveis da BAP, e destaca regiões com alto potencial de recuperação ecológica, como foco nas seguintes ações:

  • Criação de Unidades de Conservação (UCs): Proteger fauna, flora e recursos hídricos.
  • Recuperação de Áreas Degradadas: Melhorar solos e rios em regiões críticas.
  • Fiscalização: Combater desmatamento e atividades ilegais.
  • Uso Sustentável: Incentivar práticas econômicas que respeitem o meio ambiente.

Além disso, ele possibilita a integração de diferentes iniciativas, fortalecendo a gestão da bacia hidrográfica.

SAIBA MAIS: Mapas que guiam decisões: conheça as áreas prioritárias na Bacia do Alto Paraguai w18k

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